Contexto Histórico
Momento final da Idade Média na Península Ibérica, onde a cultura apresenta a religiosidade como elemento marcante.
A vida do homem medieval é totalmente norteada pelos valores religiosos e para a salvação da alma. O maior temor humano era a idéia do inferno que torna o ser medieval submisso à Igreja e seus representantes.
São comuns procissões, romarias, construção de templos religiosos, missas etc. A arte reflete, então, esse sentimento religioso em que tudo gira em torno de Deus. Por isso, essa época é chamada de Teocêntrica.
As relações sociais estão baseadas também na submissão aos senhores feudais. Estes eram os detentores da posse da terra, habitavam castelos e exerciam o poder absoluto sobre seus servos ou vassalos. Há bastante distanciamento entre as classes sociais, marcando bem a superioridade de uma sobre a outra.
O marco inicial do Trovadorismo data da primeira cantiga feita por Paio Soares Taveirós, provavelmente em 1198, entitulada Cantiga da Ribeirinha.
As origens do trovadorismo
São admitidas quatro teses fundamentais para explicar a origem dessa poesia: a tese arábica, que considera a cultura arábica como sua velha raiz; a tese folclórica, que a julga criada pelo próprio povo; a tese médio-latinista, segundo a qual essa poesia teria origem na literatura latina produzida durante a Idade Média; e, por fim, a tese litúrgica, que a considera fruto da poesia litúrgico-cristã elaborada na mesma época. Todavia, nenhuma das teses citadas é suficiente em si mesma, deixando-nos na posição de aceitá-las conjuntamente, a fim de melhor abarcar os aspectos constantes dessa poesia.
A mais antiga manifestação literária galaico-portuguesa que se pode datar é a cantiga "Ora faz host'o senhor de Navarra", do trovador português João Soares de Paiva ou João Soares de Pávia, composta provavelmente por volta do ano 1200. Por essa cantiga ser a mais antiga datável (por conter dados históricos precisos), convém datar daí o início do Lírica medieval galego-portuguesa (e não, como se supunha, a partir da "Cantiga de Guarvaia", composta por Paio Soares de Taveirós, cuja data de composição é impossível de apurar com exactidão, mas que, tendo em conta os dados biográficos do seu autor, é certamente bastante posterior). Este texto também é chamado de "Cantiga da Ribeirinha" por ter sido dedicada à Dona Maria Paes Ribeiro, a ribeirinha. De 1200, a Lírica galego-portuguesa se estende até meados do século XIV, sendo usual referir como termo o ano de 1350, data do testamento do Conde D. Pedro, Conde de BarcelosD. Pedro de Barcelos, filho primogênito bastardo de Dinis de PortugalD. Dinis, ele próprio trovador e provável compilador das cantigas (no testamento, D. Pedro lega um "Livro das Cantigas" a seu sobrinho, D.Afonso XI de Castela).
Trovadores eram aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam, e cantigas são as poesias cantadas. A designação "trovador" aplicava-se aos autores de origem nobre, sendo que os autores de origem vilã tinham o nome de jogral, termo que designava igualmente o seu estatuto de profissional (em contraste com o trovador). Ainda que seja coerente a afirmação de que quem tocava e cantava as poesias eram os jograis, é muito possível que a maioria dos trovadores interpretasse igualmente as suas próprias composições.
A mentalidade da época baseada no teocentrismo serviu como base para a estrutura da cantiga de amigo, em que o amor espiritual e inatingível é retratado.As cantigas, primeiramente destinadas ao canto, foram depois manuscritas em cadernos de apontamentos, que mais tarde foram postas em coletâneas de canções chamadas Cancioneiros (livros que reuniam grande número de trovas). São conhecidos três Cancioneiros galego-portugueses: o "Cancioneiro da Ajuda", o "Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa" (Colocci-Brancutti) e o "Cancioneiro da Vaticana". Além disso, há um quarto livro de cantigas dedicadas à Virgem Maria pelo rei Afonso X de Leão e Castela, O Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Gomes Eanes de Zurara e as novelas de cavalaria, como A Demanda do Santo Graal
Trovadorismo
terça-feira, 20 de maio de 2014
Coletânea de Cantigas
As cantigas
Com base na maioria dos textos encontrados nos cancioneiros, as cantigas podem ser divididas em
quatro grupos principais: cantigas de amigo, cantigas de amor, cantigas de escárnio e cantigas de
maldizer. Além destas, há as cantigas de Santa Maria atribuídas a Afonso X.
As cantigas de amigo
Originárias da Península Ibérica, as cantigas de amigo eram escritas sob o ponto-de-vista de um
eu lírico feminino que chorava a ausência do amado. O tema da cantiga comporta, de acordo com
o professor Leodegário de Azevedo Filho, algumas variações: separação do namorado, que partiu
em uma expedição militar e a espera de seu retorno; romaria a lugares santos , onde a moça vai
pedir por uma conquista amorosa, através da dança; as baladas, que narram a ida da moça a
algum baile; o choro da amante à beira do mar; e as cantigas de fonte, que narram a ida da moça a
uma fonte, onde ela reencontra o namorado, com perda ou não da virgindade.
Ai flores de do verde pino
Dom Dinis
- Ai flores, ai flores do verde pino,se
Sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai flores , flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai Deus e u é?
- Vós me perguntastes pólo voss’amigo?
E eu bem vos digo que é san’ e vivo:
Ai , Deus, e u é?
- Vós me perguntastes pólo voss’amado?
E eu bem vos digo que é vivo e sano:
Ai , Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é san’ e vivo,
E será vosc’ant’o prazo saído.
Ai, Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é vivo e sano
E será vosc’ant’ o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?
Blog Conversa de Português Trovadorismo Andréa Motta
Ai flores do verde pinheiro
(Versão em português moderno)
-Ai, flores, ai flores do verde pinheiro,
Sabeis notícias do meu amigo?
Ai, Deus, onde está?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
Sabeis notícias do meu amado?
Ai, Deus, onde está?
Sabeis notícias do meu amado?
Aquele que não cumpriu o que tinha jurado?
Ai, Deus, onde está?
- Vós me perguntais pelo vosso amigo?
E eu bem vos digo que está são e vivo.
Ai, Deus, onde está?
Vós me perguntais pelo vosso amado?
E eu bem vos digo que está vivo e são.
Ai, Deus, onde está?
E eu bem vos digo que está são e vivo
E estará convosco antes de terminar o prazo.
Ai, Deus, onde está?
E eu bem vos digo que está vivo e são
E estará convosco antes de passar o prazo.
Ai, Deus, onde está?
As cantigas de amor
Os jograis levaram as cantigas a toda a Europa e chegaram à região de Provença, sul da França,
onde o estilo poético foi adaptado à língua local e sofreu alterações estruturais, como se poderia
observar mais tarde nas obras do rei Dom Dinis. A poética trovadoresca sofreu ainda mudanças
de temática e foi impregnada pelo ideal de amor cortês.
No amor cortês (também chamado de coita de amor, termo em que “coita” significa encontro), o
eu lírico apresenta-se como vassalo amoroso de uma mulher casada, já que, na Provença, a
mulher solteira não tinha o mesmo valor social das casadas. Neste amor de vassalagem, a dama
era apresentada com as seguintes características: ela é o supremo bem a que o trovador
raramente tem direito de alcançar; é conjunto de beleza, virtude, paciência, fidelidade, esperança,
honra e discrição.
A discrição é condição essencial para a dama homenageada na cantiga de amor. É este sentimento
que faz o poeta atribuir-lhe um falso nome, a fim de evitar as maledicências em torno da
reputação da dama.
A cantiga de amor ibérica aproximou a amada da figura da Virgem Maria, enquanto a linguagem
da cantiga provençal expressa maior erotismo.
Com base na maioria dos textos encontrados nos cancioneiros, as cantigas podem ser divididas em
quatro grupos principais: cantigas de amigo, cantigas de amor, cantigas de escárnio e cantigas de
maldizer. Além destas, há as cantigas de Santa Maria atribuídas a Afonso X.
As cantigas de amigo
Originárias da Península Ibérica, as cantigas de amigo eram escritas sob o ponto-de-vista de um
eu lírico feminino que chorava a ausência do amado. O tema da cantiga comporta, de acordo com
o professor Leodegário de Azevedo Filho, algumas variações: separação do namorado, que partiu
em uma expedição militar e a espera de seu retorno; romaria a lugares santos , onde a moça vai
pedir por uma conquista amorosa, através da dança; as baladas, que narram a ida da moça a
algum baile; o choro da amante à beira do mar; e as cantigas de fonte, que narram a ida da moça a
uma fonte, onde ela reencontra o namorado, com perda ou não da virgindade.
Ai flores de do verde pino
Dom Dinis
- Ai flores, ai flores do verde pino,se
Sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?
Ai flores , flores do verde ramo,
Se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
Aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai Deus e u é?
- Vós me perguntastes pólo voss’amigo?
E eu bem vos digo que é san’ e vivo:
Ai , Deus, e u é?
- Vós me perguntastes pólo voss’amado?
E eu bem vos digo que é vivo e sano:
Ai , Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é san’ e vivo,
E será vosc’ant’o prazo saído.
Ai, Deus, e u é?
E eu bem vos digo que é vivo e sano
E será vosc’ant’ o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?
Blog Conversa de Português Trovadorismo Andréa Motta
Ai flores do verde pinheiro
(Versão em português moderno)
-Ai, flores, ai flores do verde pinheiro,
Sabeis notícias do meu amigo?
Ai, Deus, onde está?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
Sabeis notícias do meu amado?
Ai, Deus, onde está?
Sabeis notícias do meu amado?
Aquele que não cumpriu o que tinha jurado?
Ai, Deus, onde está?
- Vós me perguntais pelo vosso amigo?
E eu bem vos digo que está são e vivo.
Ai, Deus, onde está?
Vós me perguntais pelo vosso amado?
E eu bem vos digo que está vivo e são.
Ai, Deus, onde está?
E eu bem vos digo que está são e vivo
E estará convosco antes de terminar o prazo.
Ai, Deus, onde está?
E eu bem vos digo que está vivo e são
E estará convosco antes de passar o prazo.
Ai, Deus, onde está?
As cantigas de amor
Os jograis levaram as cantigas a toda a Europa e chegaram à região de Provença, sul da França,
onde o estilo poético foi adaptado à língua local e sofreu alterações estruturais, como se poderia
observar mais tarde nas obras do rei Dom Dinis. A poética trovadoresca sofreu ainda mudanças
de temática e foi impregnada pelo ideal de amor cortês.
No amor cortês (também chamado de coita de amor, termo em que “coita” significa encontro), o
eu lírico apresenta-se como vassalo amoroso de uma mulher casada, já que, na Provença, a
mulher solteira não tinha o mesmo valor social das casadas. Neste amor de vassalagem, a dama
era apresentada com as seguintes características: ela é o supremo bem a que o trovador
raramente tem direito de alcançar; é conjunto de beleza, virtude, paciência, fidelidade, esperança,
honra e discrição.
A discrição é condição essencial para a dama homenageada na cantiga de amor. É este sentimento
que faz o poeta atribuir-lhe um falso nome, a fim de evitar as maledicências em torno da
reputação da dama.
A cantiga de amor ibérica aproximou a amada da figura da Virgem Maria, enquanto a linguagem
da cantiga provençal expressa maior erotismo.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Definição Trovadorismo
Trovadorismo
Cumpre dizer, antes de tudo, que o Trovadorismo se manifestou na Idade Média, período este que teve início com o fim do Império Romano (destruído no século V com a invasão dos bárbaros vindos do norte da Europa), e se estendeu até o século XV, quando se deu a época do Renascimento. Nesse sentido, o artigo ora em questão tem por finalidade abordar acerca do contexto histórico-social, cultural e artístico que tanto demarcou este importante período da arte literária.
No que diz respeito ao aspecto econômico, toda a Europa dessa época sofria com as sucessivas invasões dos povos germânicos, fato este que culminava em inúmeras guerras. Nessa conjuntura desenvolveu-se o sistema econômico denominado de feudalismo, no qual o direito de governar se concentrava somente nas mãos do senhor feudal, o qual mantinha plenos poderes sobre todos os seus servos e vassalos que trabalhavam em suas terras. Este senhor, também chamado de suserano, cedia a posse de terras a um vassalo, que se comprometia a cultivá-las, repassando, assim, parte da produção ao dono do feudo. Em troca dessa fidelidade e trabalho, os servos contavam com a proteção militar e judicial, no caso de possíveis ataques e invasões. A essa relação subordinada dava-se o nome de vassalagem.
Quanto ao contexto cultural e artístico, podemos afirmar que toda a Idade Média foi fortemente influenciada pela Igreja, a qual detinha o poder político e econômico, mantendo-se acima até de toda a nobreza feudal. Nesse ínterim, figurava uma visão de mundo baseada tão somente no teocentrismo, cuja ideologia afirmava que Deus era o centro de todas as coisas. Assim, o homem mantinha-se totalmente crédulo e religioso, cujos posicionamentos estavam sempre à mercê da vontade divina, assim como todos os fenômenos naturais.
Na arquitetura, toda a produção artística esteve voltada para a construção de igrejas, mosteiros, abadias e catedrais, tanto na Alta Idade Média, na qual predominou o estilo romântico, quanto na Baixa Idade Média, predominando o estilo gótico. No que tange às produções literárias, todas elas eram feitas em galego-português, denominadas de cantigas.uês, denominadas de cantigas.
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